Entrevista

. “Não existe empoderamento sem planeamento familiar”

Mónica FerroA pretexto do Dia da População, assinalado em todo o mundo a 11 de Julho, a P&D Factor falou com a diretora do escritório do UNFPA em Genebra. Nesta curta entrevista, Mónica Ferro, sublinhou a importância desta data, que este ano foi dedicada ao planeamento familiar como forma de empoderar as pessoas e desenvolver as nações.

Entrevista: Carla Amaro
Fotografias: Tiago Lopes Fernández

O que representa para si o 11 de Julho, Dia Mundial da População?

É um dia de consciencialização, mas sobretudo de ação em torno de grandes desafios. Este ano o tema foi, como seria de esperar, o planeamento familiar como forma de empoderar as pessoas e desenvolver as nações.

É um tema central e foco principal da ação da organização que integra desde Abril deste ano. Que mensagem o UNFPA quis passar neste dia?

O UNFPA pretendeu demonstrar que além de o planeamento familiar voluntário ser um direito humano, é também uma alavanca para o desenvolvimento social, económico e político das nações. Jovens e adultos com acesso à informação, meios e serviços (para que possam planear as suas vidas, desde logo escolher se querem constituir família, se querem e com quem querem casar, o número de filhos e o espaçamento entre cada gravidez) são pessoas que têm uma saúde com mais qualidade, que podem frequentar mais anos de escolaridade, adquirir mais competências, ter um emprego mais produtivo e mais voz no espaço público e na tomada de decisão.

Ou seja, as vantagens do acesso a informação, aos meios e aos serviços em matéria de planeamento familiar são inúmeras, quer para os jovens (e adultos), quer para os países…

Justamente. Desenvolvem-se as pessoas, as suas comunidades, os países e todos nós enquanto membros desta humanidade partilhada.

“Há hoje um reconhecimento incontestado de que a saúde sexual e reprodutiva é fundamental para o desenvolvimento”

Quais são, atualmente, os principais desafios na área da População e Desenvolvimento, a que tem dedicado uma boa parte da sua carreira profissional?

Temos feito tantos progressos... Desde 1970 que o acesso a contracetivos modernos quase duplicou. Há hoje um reconhecimento incontestado de que a saúde sexual e reprodutiva é fundamental para o desenvolvimento e que só com um forte compromisso com a agenda de População e Desenvolvimento se poderá atingir o ODS 1 (Erradicação da pobreza), o ODS 3 (Saúde de qualidade para todos) e o ODS 5 (Igualdade de género), apenas para dar alguns exemplos.

Mas, apesar dos progressos, há ainda cerca de 214 milhões de mulheres no mundo que não têm acesso ao planeamento familiar moderno. O que é preciso fazer mais?

É preciso trabalhar mais para ter um quadro normativo que traduza os compromissos internacionais e para ter programas que permitam salvar vidas. É preciso garantir o acesso universal ao planeamento familiar, é preciso que haja um reconhecimento global da saúde sexual e reprodutiva e direitos conexos como traves metras para o desenvolvimento sustentável, é preciso investir mais no empoderamento dos jovens, é preciso um olhar especial para as necessidades dos e das adolescentes, é preciso eliminar, de uma vez por todas, todas as formas de violência contra as raparigas e mulheres. Enfim, são apenas alguns dos temas cruciais.

E que papel podem ter aqui governos, sociedade civil e parlamentares?

Podem fazer a diferença na vida de tantos milhões de pessoas. Não nos podemos esquecer que prometemos que não deixávamos ninguém para trás.

Quem é Mónica Ferro?

Mónica FerroAntes de exercer o cargo de diretora do escritório do UNFPA em Genebra, foi deputada à AR pelo PSD (e vice-presidente de bancada), coordenadora do GPPsPD – Grupo Parlamentar Português sobre População e Desenvolvimento e vice-presidente do Fórum Europeu de Parlamentares sobre População e Desenvolvimento (EPF). Ajudou a fundar a associação Objetivo 2015, que em Portugal fazia a promoção dos ODM, e é sócia fundadora da P&D Factor. A sua carreira académica está praticamente alicerçada no ISCSP, da Universidade de Lisboa, como professora de Relações Internacionais.